segunda-feira, 25 de abril de 2011

Curinga

“Vivemos nossas vidas num incrível mundo de aventuras, pensei. Apesar disso, a grande maioria das pessoas considera tudo isso “normal”. Em compensação, vivem em busca de algo fora do normal: anjos ou então marcianos. E isso se explica pelo simples fato de que elas não consideram um enigma o mundo em que vivem. Para mim a coisa era completamente diferente. Para mim, o mundo era um sonho muito estranho, e eu vivia em busca de uma explicação racional qualquer para esse sonho. E enquanto fiquei parado ali, observando o céu ir mudando de cor, primeiro cada vez mais vermelho e depois cada vez mais claro, experimentei uma coisa que jamais havia experimentado antes; um sentimento que desde então nunca me deixou: lá estava eu na frente da janela da cabine de um navio, eu, um ser enigmático, vivo, mais que apesar disso nada sabia de si. Experimentei a sensação de ser uma criatura viva num planeta vivo dentro da Via Láctea. Talvez já tivesse consciência disso antes, pois esse era um tema que já tinha sido abordado várias vezes dentro da educação que eu vinha recebendo. Mas aquela era a primeira vez que eu sentia aquilo tudo por mim mesmo. E aquele sentimento se instalou em cada célula do meu corpo.”


O Dia do Curinga, Jostein Gaarder – pág. 164

3 comentários:

  1. Um contato imediato de quarto grau! Viver é tão incrivel q é quase insuportavel, ai o homem veio com a normalidade!
    Mas de vez enquando aparece um curinga...

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  2. Isso! não dó a normalidade, como o comodismo, rotina, obviedade, porque no fundo no fundo as coisas que achamos óbvias não o são.

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